Apresentação

Ágora era o nome dado na Grécia antiga às praças públicas onde se realizavam assembleias políticas e demais manifestações sociais e ideológicas. Ou seja: um espaço de suma importância na época para a consolidação e transmissão da cultura e dos valores da pólis, num período em que grande parte do conhecimento, saberes e tradições eram perpassados às gerações oralmente, através das falas e das interações discursivas.


Com H, ȺGHORA é um significante-mestre (S1), que, num primeiro tempo, nomeia um grupo de interessados na teoria e na prática psicanalítica, leia-se freudolacaniana, formado sob o desejo compartilhado de sujeitos implicados nos estudos e transmissão para a formação de analistas, de acordo com o tripé: análise pessoal, formação teórica permanente e supervisão clínica. Esse desejo vai ganhando corpo no trabalho de construir um espaço de circulação da psicanálise, ao mesmo tempo comum e próprio, para o estudo da teoria analítica na articulação com a prática clínica, a partir das trocas de experiências entre os pares, uma vez que o analista só se autoriza por si mesmo... e com alguns Outros, contando com o reconhecimento da potência que alcançam juntos, estudos, prática e transmissão, quando reunidos num grupo de semelhantes.


Nesse viés, a letra H pretende marcar, como suporte material do significante na grafia de ȺGHORA, um elemento diferencial em relação à ágora grega, uma vez que, na tradição filosófica, o inconsciente sempre foi relegado à categoria de resíduo, apontando uma negatividade no saber e uma impossibilidade do sujeito apropriar-se de aspectos de sua subjetividade, inicialmente sem voz e não nomeados. Já no nosso campo, da Psicanálise, o inconsciente não é desprezado como algo obscuro, sem corpo e sem saber; pelo contrário: é reconhecido como um impulso primordial na estruturação do psiquismo, um elemento positivo e provido de propriedades científicas, cuja descoberta e integração na personalidade fazem do falante um sujeito mais desperto e íntimo de suas verdades e desejos inconscientes. Assim, em sua afonia, o “H” vem representar o inconsciente numa imagem sem pronúncia, mas que, nos tropeços da fala, se dá a ver nas formações do inconsciente, à revelia do sujeito.


Nessa direção, o Ⱥ inicial de ȺGHORA é uma referência ao (grande) Outro lacaniano, lugar simbólico representado pelo Social, por outras Instituições, grupos de estudos e analistas implicados com a transmissão da psicanálise, tanto a partir da prática da escuta clínica, quanto de seus diversos desdobramentos e fazeres, que dialogam, se entrelaçam e produzem efeitos e atos analíticos em outras instâncias da pólis, como instituições públicas e privadas, de saúde, educação, atenção psicossocial e afins.


Como prenúncio, o significante ȺGHORA indica também o desejo de tornar esse grupo uma Instituição psicanalítica, que, através de seus membros e de alguns Outros, unam suas aspirações em pulsões na direção de tornar esse sonho de agora uma realidade presente, através de um tempo para elaborar. Com isso, sob o signo “ȺGHORA Psicanalítica: Estudos & Transmissão”, o significante “ȺGHORA Psicanalítica” (como na fórmula lacaniana sobre a teoria do significante), representa os sujeitos transferenciados com este trabalho (sobrescrito através do significado “Estudos & Transmissão”), para o significante “Social” (Ⱥ), dado pelo matema:


ȺP

______ --> Ⱥ

ET


Assim como a banda de Möbius, a ȺGHORA Psicanalítica também faz um movimento em direção ao Outro, ilustrado pela fórmula ( ȺP / ET --> Ⱥ ), que só se completa no retorno ao ponto de partida. É endereçada ao Social (Ⱥ), como espaço de trocas e atos que comportem o real do desejo inconsciente, que a ȺGHORA visa remeter e dividir suas indagações acerca da produção do conhecimento e do fazer analítico.


Contudo, esse trabalho só pode ser reconhecido enquanto tal, com valor de Ato analítico, na medida em que o Social reendereçar, de volta à ȺGHORA, certas respostas ou ecos que apontem para o reconhecimento de sua práxis enquanto lugar simbólico de circulação e transmissão da psicanálise. Esse movimento de retorno pelo reconhecimento dos Outros completa uma volta inteira através da banda de Möbius, que conclui um momento de inauguração de seu Nome-Próprio como um S1, ao mesmo tempo que instaura um tempo e um espaço propriamente ditos para relançar novas questões e buscar novos saberes (S2), como sucessivas voltas numa banda de Möbius.